Bicho do Momento

O pet do momento é o YORKSHIRE

sábado, 5 de dezembro de 2009

O Diário de um Ferret

1ª semana: Hoje completei uma semana de vida. Que alegria ter chegado a este mundo! Como tudo é colorido e belo...

2ª semana: Minha mamãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar! Me lambe todo e me pega pelo cangote quando acha que vou aprontar... Mas não dói, eu só fico paralisado. Adoro mamar, sou o mais gordinho da ninhada!

3ª semana: Hoje me separaram da minha mamãe. Ela estava muito irrequieta e, com seu olhar, disse-me adeus. É, acho que nunca mais vou revê-la. Espero que a minha nova "família humana" cuide tão bem de mim como ela o fez. Confesso que estou assustado, com muito medo!

1 mês: Viajei muito, mudei de país. Estou em uma gaiola com outros da minha espécie e não sei direito qual vai ser o meu destino. Dizem que sou o "bicho da moda" e muitas pessoas vêm nos olhar e querem nos fazer carinho! Nossa, como somos amados!

2 meses: Como dizem os colegas de "Carandiru", ganhei a condicional, ou seja, fui comprado! Uau, parece que sou caro. Portanto devo valer muito. Tenho a sensação de que serei muito feliz!

6 meses: Cresci rápido, tudo me chama a atenção. Há várias crianças na casa e para mim são como "irmãozinhos". Somos muito brincalhões, eles me puxam o rabo e eu os mordo de brincadeira.

7 meses: Hoje me deram uma bronca. Minha dona se incomodou porque fiz "caquinha" fora do lugar. Mas o lugar que eu costumo usar estava todo sujo, não havia mais espaço... Não consegui aguentar!!! Ah, mudaram a minha comida. Disseram que a de gato é igual e beeeeeem mais barata! Tudo bem, me adapto facilmente e amo a minha família! Faria tudo por eles...

8 meses: Sou um Ferret feliz! Tenho o calor de um lar, sinto-me tão seguro, tão protegido... Acho que a minha família humana me ama e me consente muitas coisas. O pátio é todinho para mim e, às vezes, me excedo, cavando instintivamente a terra como meus antepassados. É a terra de uns tais "vasos de estimação" da minha dona. Ouço uns gritos mas ninguém nunca me chama a atenção. Deve ser correto tudo o que faço.

1 ano: Hoje completei um ano. Sou um Ferret adulto. Meus donos me deixam cada vez mais tempo preso na gaiola, mas me tiram para mostrar quando vem visita em casa. Que orgulho devem ter de mim!

1 ano e 1 mês: Fico todo o tempo na gaiola, ninguém sequer olha mais para mim. Quase não consigo esticar as patinhas, estou ficando enferrujado sem exercício. Que ironia, me colo nas grades de manhã em busca de um raio de sol e tenho que me esconder no fundo da redinha puída (é a mesma que veio junto quando me compraram) e cheia de buraquinhos à tarde, quando quero alguma sombra. Meus donos dizem que dou muito trabalho. Não compreendo nada do que está acontecendo.

1 ano e 3 meses: Já nada é igual... Colocaram a minha gaiola lá no fundo do quintal, sob uma telha de amianto. Como esquenta, fica abafado! Às vezes me falta o ar... Sinto-me muito só. Minha família já não me quer! Às vezes esquecem que tenho fome e sede. Quando chove, o vento traz a chuva e me molho todo. O que será que fiz de tão errado para ser assim castigado? Tento chamá-los para brincar, mas ninguém me ouve. Queria tanto dizer a eles o quanto os amo...

1 ano, 4 meses e 1 dia: Hoje me tiraram do fundo do quintal. Estou certo de que minha família me perdoou. Eu fiquei tão contente que pulava com gosto. Meu rabo parecia um ventilador. Além disso, vão levar-me a passear em sua companhia! Nos direcionamos para a rodovia e, de repente, pararam o automóvel. Abriram a porta e me soltaram. Saí correndo feliz, pensando que passaríamos nosso dia no campo. É um parque!!! Não compreendo porque fecharam a porta e se foram. "Ei, eu fiquei, me esperem, quero colo..." Corri sem rumo, muito assustado. Vi o carro se afastando, tentei ainda segui-lo. Minha angústia crescia ao perceber que quase perdia o fôlego e eles não paravam. Haviam me esquecido!

1 ano, 4 meses e 2 dias: Procurei em vão achar o caminho de volta ao lar. Estou só e sinto-me perdido! No meu caminho existem pessoas que sequer sabem o que eu sou! Me chamam de rato, gritam, parece que sou perigoso!!! Estou com fome e com sede. Achei uma espécie de lago, bem grande. Tomo água ali. Uma velhinha sentada em um banco me acha engraçado, diz que sou um "esquilinho bonitinho" e me dá pão. Eu como e agradeço com o meu olhar, do fundo de minha alma. Como eu gostaria que me adotassem: seria leal como ninguém! Mas somente dizem: "Que bicho esquisito, será que morde?"

1 ano, 4 meses e 3 dias: Hoje muitas crianças vieram ao parque. Lembrei-me dos meus irmãos humanos e bateu uma saudade louca. Me aproximei de um grupo deles que, rindo, me jogou uma chuva de pedras "para ver quem tinha melhor pontaria". Uma dessas pedras feriu-me o olho e, desde então, não enxergo com ele. Sobrevivo já há três dias milagrosamente (já que sou um animal bastante frágil) de migalhas e restos que encontro por aí.

1 ano, 4 meses e 4 dias: Parece mentira. Quando eu era filhote, lindo e esperto, todos me adoravam. Agora ninguém tem compaixão de mim. Já estou muito fraco, meu aspecto mudou. Perdi o meu olho e ando meio cambaleante, acho que quebrei uma patinha. As pessoas me ameaçam quando pretendo deitar-me num pequena sombra ou chegar perto. Sinto que minhas forças se esgotam e minha barriguinha dói muito. Tenho medo!

1 ano, 4 meses e 5 dias: Quase não posso mover-me! Hoje, ao tentar atravessar uma das clareiras do parque, um homem me chutou. Pegou de raspão mas me jogou longe! Nunca esquecerei o olhar de satisfação dele, que até se vangloriou por acertar-me. Como queria que tivesse me matado! Mas só me deslocou as cadeiras! A dor é terrível ! Minhas patas traseiras não me obedecem e com dificuldade arrastei-me até a relva, na beira do caminho. Faz cinco dias que estou embaixo do sol, da chuva, do frio. Comi muito pouco, nunca havia experimentado nada a não ser ração. Já não posso me mexer, a dor é insuportável! Estou me sentindo mal, fiquei num lugar úmido e parece que até o meu pêlo está caindo... Algumas pessoas passam e nem me vêem; outras dizem: "Credo, não chegue perto".

Já estou quase inconsciente, mas alguma força estranha me faz abrir os olhos. A douçura de sua voz me fez reagir. "Meu Deus, um furão. Coitadinho, olha como te deixaram", dizia... Senti uma mão bondosa me pegando no colo e me envolvendo em algo quentinho e macio. Apaguei. Quando acordei, um senhor de avental branco estava me tocando e disse: "Sinto muito, senhora, mas este Ferret já não tem remédio. É um milagre estar vivo!". "Está muito machucado, é melhor que pare de sofrer". A gentil dama, com as lágrimas rolando pelo rosto, concordou. Como pude, mexi o rabo e olhei-a, agradecendo-lhe que me ajudasse a descansar. Em um último esforço, consegui lhe dar uma lambidinha no nariz... Não emiti nenhum ruído, docilmente me submeti à picada da injeção e dormi para sempre. Meu último pensamento foi: porque tive que nascer se ninguém me queria?

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